terça-feira, dezembro 06, 2005

Margaritenhos:

Cá estou eu novamente a colocar os meus artigos semanais que gravo para a Rádio Portalegre. Desta vez assinalo a trágica data de 4 de Dezembro de 1980. Um pouco de História não faz mal a ninguém. espero que gostem e que comentem.

Quanto ao meu amigo Filipe Cruz, continuo a gostar da tua participação neste blog, mas quero dizer-te que também concordo que o meu aniversário não deve ser o encontro de que falámos para nos juntarmos, mas meu amigo, se não houver outras oportunidades (como se tem verificado...) e se tu não tiveres afazeres mais importantes!!! talvez seja a única oportunidade de nos ir-mos vendo.

Nota: Estou à espera das respostas quanto à passagem de ano (lembra-se no casamento do Pilhas?).

Um abraço a todos


Aqui vai então o artigo:


Francisco Sá Carneiro


No dia 4 de Dezembro de 2005, assinalou-se a passagem de 25 anos sobre a trágica morte de Francisco Manuel Lumbrales de Sá Carneiro.
Sá Carneiro tinha, para muitas pessoas que o conheceram de perto, várias qualidades, tanto políticas como pessoais:
- Como político era determinado, de grande magnetismo, com grandes convicções, um líder natural, inteligente, organizado, punha sempre o interesse nacional à frente do interesse pessoal ou partidário, era um grande democrata e um grande estadista e essencialmente tinha uma grande visão de futuro e uma grande visão estratégica. Era o mito de muitas pessoas antes do 25 de Abril.
- Pessoalmente era um homem afável, simples, de convicções fortes, muito arrojado e tinha um olhar de lince, como que a pensar em algo transcendente ou a prever qualquer situação.
Tinha sempre a coragem de dizer o que pensava, actuava em conformidade e corria os riscos correspondentes a essa actuação. Tinha, na maioria das vezes a razão do seu lado. Ter razão, no tempo certo, antes dos outros, era uma das características deste grande homem.
Francisco Sá Carneiro sabia funcionar em equipa, liderar grupos, e sabia que, para dar sequência à sua intervenção política, não poderia refugiar-se na solidão, tinha de ir buscar, orientar e motivar as pessoas. Mas como qualquer grande líder, tomava por vezes decisões de forma solitária, mas com uma coerência invejável, como se veio a confirmar.
Como seria Portugal se Francisco Sá Carneiro fosse hoje vivo? Não é possível responder a esta pergunta com exactidão. Contudo, uma coisa é certa: Se Sá Carneiro fosse vivo, Portugal estaria melhor. Melhor não apenas no que respeita ao desenvolvimento e às estatísticas económicas e financeiras, mas sobretudo, no que respeita à diminuição das injustiças sociais e à criação de igualdade de oportunidades, nas várias etapas da vida social e profissional. Esta é sem dúvida, a palavra de ordem da social-democracia: a liberdade é essencial mas, sem igualdade, a liberdade plena nunca será alcançada.
Sá Carneiro, em todo o seu percurso político, transcendeu os limites do PPD/PSD e deixou uma marca indelével na história do séc. XX português, entrando por direito próprio na solene galeria das mais prestigiadas figuras nacionais. Foi o grande símbolo da ala liberal no período do marcellismo, foi um dos 3 fundadores do PPD/PSD e foi um excelente Primeiro-ministro.
Como líder do PPD/PSD um partido que se proclamava social-democrata, do centro esquerda e a caminho do socialismo, Francisco Sá Carneiro conseguiu um grande milagre político que foi captar com elevado grau de fidelidade, a maior parte do eleitorado do centro e da direita, que era predominantemente conservador e nada tinha a ver com o socialismo.
Francisco Sá Carneiro confidenciava várias vezes aos seus parceiros do partido e da aliança democrática (AD), que sentia sobre os seus ombros o peso de uma grande responsabilidade histórica – a de uma geração a quem tinha cabido, de repente, fundar a Democracia, que não pôde ser obtida pacificamente, fazer a Descolonização, que não foi preparada com sentido de antecipação histórica, e promover o Desenvolvimento, num país ainda pobre e atrasado, que arrancou tarde para o progresso económico, social e cultural.
A morte roubou Francisco Sá Carneiro a Portugal e à vida pública portuguesa, mas 25 anos depois, o seu exemplo nunca é de mais recordar, bem como algumas lições que importa não esquecer:
· Coragem política – a coragem de falar claro e de aceitar ou renunciar com firmeza, em função das circunstâncias;
· Capacidade federadora
· Serenidade no tumulto das adversidades, que frequentes vezes lhe permitiu atravessar incólume, agitadas tempestades;
· Sentido de Estado – fez dele um alto servidor do seu país, antes e acima das tarefas partidárias, das amizades pessoais ou do jogo de interesses;
· Por último, a distinção entre a política como projecto de poder e a política como projecto de sociedade.

Foi a esta última que Francisco Sá Carneiro dedicou a sua vida e foi a bater-se por ela que encontrou a morte no fatídico dia 4 de Dezembro de 1980, quando tanto havia ainda a esperar dele.
Passados 25 anos sobre a sua morte, Francisco Sá Carneiro, é a grande força inspiradora e a referência indiscutível de toda a família social-democrata.
Viveu como um grande político – lutador pelos seus ideais, determinado na implementação dos seus projectos, lúcido na apreciação das condições que o rodeavam, e capaz de apresentar um projecto para o qual mobilizou milhões. Por tudo isto e talvez muito mais, irá ficar na História.
Morreu no auge da sua glória, da sua força política, do seu prestígio. Morreu de pé, a lutar por um ideal, e a dar tudo por tudo para triunfar. Ficará na História como um vencedor!
Saint-Exupéry em (1942) dizia: «aquele que apenas ambiciona servir numa catedral já construída é um derrotado; mas aquele que traz no seu coração uma catedral a construir, já venceu!». Francisco Sá Carneiro trazia Portugal no seu coração!
Filipe Mouzinho Serrote

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