quinta-feira, janeiro 19, 2006

CAVACO: NÃO MUITO OBRIGADO!!


Caros AMIGOS:

Para que não restem dúvidas, e parece-me que elas estão a surgir, não me resignei (tás a ouvir ó Cruz!!!), nem me deixei de lutar pelo que acredito. Sou pessoa de convicções fortes, e não é pelas sondagens se apresentarem desfavoráveis que viro a cara à luta. Existe aquela velha máxima, que a verdadeira sondagem é depois dos votos contados e essa é que contará para mim. Respeitarei qualquer resultado como bom democrata, mas não deixarei de analisar para mim próprio os resultados. Mais: as sondagens têm vindo a demostrar uma queda de Cavaco Silva, dia após dia, por isso não sei como será até Domingo. Mas estamos cá para ver.

Vou-vos contar uma história (nada a ver com as Memoráveis e Intermináveis!!!), que se dirige a todos, mas em particular ao meu AMIGO Serrote, que possivelmente ficará espantado.
Em 1985, na flôr da idade da traquinice, parti um braço. Azar ou sorte, chamava a atenção aquele bloco de gesso que ia do meu pulso até ao deltoide. Nessa altura não percebia nada de política, embora tivesse simpatias: simpatizava com os autoculantes da CDU (na altura APU) e que gostava de ostentar na lapela, gostava do PS pois achava que o meu pai era (o meu pai é um simpatizante socialista não militante), e gostava do Cavaco Silva e da música do PSD. Os dois primeiros gostos são justificáveis: o puto gostava do grafismo dos autocolantes e gostava de imitar o pai. E o terceiro? Porque gostaria ele de Cavaco Silva e da música? Passo a explicar: os meus pais em tempos idos tiveram um restaurante. Aquando da campanha para as legislativas de 85, e numa passagem em campanha por S. Pedro do Sul a comitiva social democrata foi almoçar ao meu restaurante (numa altura em que não sabiam a coloração dos meus pais!!!). Nesse mesmo dia peguei numa folha, desenhei a chaminé e coloquei na lapela. Queria daquela forma receber Cavaco Silva. Claro que quando Cavaco apareceu achou imensa piada. Deu-me um verdadeiro autocolante, e a sua esposa perguntou-me como tinha partido o braço. Gerou-se ali uma cavaqueira (lol) de poucos minutos da qual retenho o seguinte: a esposa do Cavaco assinou no meu gesso; Cavaco Silva, disse "vá não desanimes que o teu braço vai endireitar-se e ficar bom (quase que acertava, ficou bom, mas endireitar-se é que não, foi mais esquerdizar-se!!!).
Serve isto para dizer que até tinha razões para simpatizar com o homem. Afinal, troquei com ele mais do que um banal bom dia ou boa tarde!!

O que é certo, é que não me mantive nos 8 anos sempre e na ignorância do que é política. Entrei para a Juventude Socialista com os meus 16 anos e aos 20 tornei-me militante do PS.
História à parte, debruço-me então nas eleições presidenciais: não gosto de Cavaco, mesmo nada!! Se achei que foi um desastre enquanto Primeiro Ministro, principalmente no segundo mandato, e essencialmente na fraca rentabilização dos fundos que vieram da CEE (ainda hoje estamos a pagar a factura dessa incompetência), onde acabou por ser julgado primeiro com a derrota de Fernando Nogueira para António Guterres e depois com a derrota a favor de Jorge Sampaio, acho que será ainda pior Presidente da República. Não tem perfil para o cargo, mas não me assusta caso ganhe: o cargo de PR para mim é mais decorativo que outra coisa. Isso de ajudar e intervir e não sei quê mais, são balelas de quem quer agora dar uma importância ao cargo, que não é a sua.

Cavaco Silva este 10 anos calado. Nunca se pronunciou em momentos críticos (salvo raras excepções) sobre temas actuais e problemáticos do nosso país e do mundo: destaco a crise do Iraque (contra ou a favor da invasão? não sei!), o envio de tropas portuguesas (contra ou a favor? não sei), realização do Euro 2004 (contra ou a favor? não sei), 11 Setembro (opinou sobre o terrorismo? não sei), OTA E TGV (contra ou a favor? não sei), entre tantos outros temas que não me vêm à memória agora. Foi um político ausente. Sim, ele é político, quer ele queira ou não. Mais, o cargo de Presidente da República é o mais político que nós temos na nossa democracia e ele está a concorrer a esse cargo!!! Esteve ausente estrategicamente, dando 10 anos como prazo para limpar a sua imagem e das pessoas esquecerem o quanto sofreram com o Cavaquistão (nome por que é conhecido o meu distrito!!).
Acho que Cavaco tem muitas virtudes, mas faltam-lhe aquelas que lhe permitiriam ser um bom Presidente da República.

Mário Soares. Mário Soares é para mim, e para muitos, o maior e mais prestigiado (interna e externamente) político português. Foi ele que nos colocou na União Europeia. Mais, aquando da decisão de entrada ou não, reuniu-se com os mais ilustres economistas e todos lhe disseram que era um erro a entrada. Mas ele foi político, teve uma visão mais global e decidiu entrar. Possivelmente foi a medida mais importante tomada por um político no pós 25 Abril.
Contudo, penso que esta sua candidatura não tem grande razão de ser. Não que duvide das suas capacidades e faculdades mentais para exercer o cargo, não porque tem a idade que tem (estou-me a burrifar!!), mas sim porque vem em contra ciclo. Já deu e muito ao País, agora devem ser outros a dar. Ainda assim preferia de longe Soares a Cavaco em Belém.

Manuel Alegre é de facto o único candidato independente. Soares é apoiado pelo PS, Cavaco pelo PSD e CDS, e os outros candidatos querem apenas segurar o seu eleitorado e fazer frente ao Governo desta forma,ganhando tempo de antena. Alegre concentra em si as condições e competências de um Presidente da República: humanista, solidário, sonhador (porque não!, acho que nos falta sonhadores no país), aberto e acima de tudo frontal e não acorrentado por vícios e caciques que os outros candidatos têm. Alegre diz o que pensa e não o que os outros gostam de ouvir. Alegre é do povo, não só em tempo de campanha. Por isso, quando faltam quatro dias para o acto eleitoral é em Alegre que penso depositar o meu voto.

Apelo por isso ao seguinte. Vamos votar nos candidatos de esquerda para haver uma segunda volta e aí verificar-se quem de facto os portugueses quem para Presidente da República.


Um grande abraço a todos, na certeza porém que se Cavaco ganhar, gostava sinceramente de estar enganado a seu respeito!! E não se esqueçam que há mais vida para alés das Presidenciais (lol!!!).

2 comentários:

Serrote disse...

Caro amigo Almeida:

Sei que acreditas nisso que escreveste, mas deixa-me responder com um pequeno texto.

Aqui vai,

"Despois de 10 anos na chefia do governo, Cavaco Silva voltou ao Banco de Portugal e às aulas na Universidade. Foi o regresso ao local de origem de um homem que ainda hoje prefere ser tratado por "Professor" e que se descreve como um "não político" que, em determinada altura, se encontrou "no poder".
Cavaco Silva afastou-se voluntariamente da vida político-partidária activa mas manteve-se atento à evolução do país. Os seus silêncios apenas foram foram quebrados em circunstâncias especiais.

Este texto foi escrito por um jornalista (Vítor Gonçalves) que fez a sua tese de Douturamento sobre Cavaco Silva. É capaz de ter alguma credibilidade...

Quer os socialistas queiram, quer não queiram, estes foram os factos que sucederam após os 10 anos de chefia do governo.

Lembro aqui um excerto de um artigo que escrevi sobre precisamente este tema:

"Apesar de 10 anos de algum silêncio (por vezes também é importante), Cavaco Silva nunca deixou de expressar a sua opinião nalguns artigos de jornais que tiveram sempre a maior cobertura mediática da maioria da comunicação social, bem como grande influência sobre a classe política, como são exemplos os seguintes artigos:
• “O Monstro” em Fevereiro de 2000 no Diário de Notícias, em que alerta sobre a despesa pública do Estado;
• “Missão Patriótica” em Maio do mesmo ano também no Diário de Notícias em que solicita aos jornalistas e aos empresários que se empenhem nessa missão e pressionem o Governo a governar;
• Em Junho de 2001 escreve mais uma vez no Diário de Notícias o artigo intitulado “A Mentira”, desta vez para denunciar a má condução do Governo no que respeita à elaboração dos orçamentos e ao facto de dizerem que existe necessidade de um orçamento rectificativo devido ao abrandamento económico, em vez de assumir os «erros graves deliberadamente cometidos nos últimos anos».
• Em Fevereiro de 2002, em pré-campanha para as legislativas antecipadas, na sequência da demissão de António Guterres, o Professor (como gosta de ser chamado) publica mais um artigo de opinião denominado “O Alerta”. Este alerta tinha como intenção avisar a população que era necessário mudar de rumo;
• Mais recentemente e tendo em consideração o estado da situação política, Social e económica do nosso país, escreve em Novembro de 2004 o artigo “Os políticos e a lei de Gresham” sobre a degradação crescente da qualidade dos agentes políticos, numa alusão à necessidade da substituição dos maus pelos bons políticos;

Mas a apresentação de Cavaco Silva foi precisamente o oposto das candidaturas anteriores, em que a perspectiva partidário esteve sempre presente.
Ora vejamos:
Começando pela apresentação da candidatura de Mário Soares, que mesmo antes de se candidatar, necessitou do apoio prévio do Partido Socialista.
Nessa apresentação estavam presentes, para além de alguns amigos de longa data (excepto Manuel Alegrete…), o Exmo. Sr. Primeiro-ministro, bem como os altos responsáveis pelo PS.
Mário Soares, invocou nessa altura que era necessário evitar que a caminhada de Cavaco para Belém se transformasse num passeio triunfal.
Manuel Alegre, na sua apresentação como candidato presidencial, disse que queria evitar que Cavaco fosse eleito à primeira volta;

Ora, tanto Soares como Alegre se candidataram pela negativa, candidataram-se para impedir a vitória de Cavaco Silva.
Poderá parecer estranho que tanto Mário Soares como Manuel Alegre se tenham candidatado com este objectivo, mas a verdade é que ambos tiveram uma vida política muito mais marcante na oposição do que no poder.
Ambos estavam na oposição à ditadura antes do 25 de Abril.
Ambos lutaram contra o gonçalvismo depois do 25 de Abril.
Mesmo quando Mário Soares ocupava o lugar de Presidente da República, a sua principal preocupação (principalmente no 2º Mandato) era fazer oposição ao Governo liderado por Cavaco Silva, reclamando o «direito à indignação» e opondo-se à «ditadura da maioria» citando Mário Soares.
Neste contexto, não se estranha que Mário Soares e Manuel Alegre se tenham apresentado a combater algo ou alguém em vez de se apresentarem por algo ou pelos portugueses.
Mário Soares, depois de ter lutado durante 10 anos contra Cavaco Silva, não gostaria agora de o ver ocupar o lugar que já foi seu e acabar a carreira política com um currículo melhor que o seu.
Manuel Alegre é um caso especial. Como político, como poeta, como amigo, sempre foi igual a si próprio e não perdoa uma traição. Candidata-se evidentemente contra Cavaco mas principalmente contra Soares.
Jerónimo de Sousa e Francisco Louça apresentam-se como candidatos dos seus partidos, da esquerda e irão lutar um contra o outro para ver quem tem mais votos.
Neste cenário trágico para a esquerda portuguesa, Cavaco surge como o único candidato que não se apresenta contra ninguém. Apresenta-se por si, pela sua convicção de que pode contribuir para ultrapassar todos os problemas, nesta fase difícil em que o país está confrontado com a necessidade de uma mudança muito profunda para se adaptar a outros tempos, colaborando com o Governo, numa relação institucional com elevação, mas também com a obrigação de fazer o melhor por Portugal.
Tem também a vantagem de ser o candidato com melhor posição na sua área política, de não estar envolvido em polémicas e principalmente de não estar minimamente preocupado com os outros candidatos, mas sim com os problemas de Portugal.
Relativamente à sua primeira declaração, não existem mais dúvidas:
• A questão do presidencialismo terminou. Cavaco, se for eleito presidente da república, irá respeitar os poderes constitucionais estabelecidos;
• A coabitação com o PS não será uma ameaça, até porque tem uma experiência como Primeiro-ministro e sabe a importância da estabilidade política, da qual é um dos maiores defensores;
• No que diz respeito ao refendo sobre a interrupção voluntária da gravidez, Cavaco defende até que o Presidente da República deve dar sempre seguimento aos pedidos de referendo que vierem da Assembleia da República;
• A dúvida que alguns têm sobre uma possível dissolução do parlamento está, neste momento, completamente fora de questão e só será referida por má fé;

Os seus adversários políticos têm desta forma, muito poucos argumentos para o criticar. As suas críticas começarão a incidir então sobre o seu percurso como Primeiro-ministro.
Ora, Numa época em que os governos não duram mais de 6 anos, o que se poderá invocar contra o Primeiro-ministro que mais estabilidade deu a Portugal desde o 25 de Abril?
Ao contrário do que possam pensar os seus adversários, todo o passado de Cavaco Silva como Primeiro-ministro não é uma desvantagem, mas sim um trunfo nestas eleições."

Filipe Mouzinho Serrote

Pedro Almeida disse...

Caro AMIGO:

Não me vou estar a repetir, coisa que tens feito ao longo de várias dissertações. Apenas dois comentários estilo flash interview:

1. Candidatar-se alguém contra Cavaco considero uma atitude pela positiva.

2.Toda a vida os partidos apoiaram os candidatos presidenciais. Só por mera ignorância ou hipocrisia se diz que Cavaco não é apoiado por ninguém (claro que é!!). Apenas usou a estratégia (e possivelmente bem de se afastar de dois partidos fracos na actualidade:PSD e CDS) e dessa forma vir buscar votos à esquerda sem os quais nunca conseguiria ganhar.

Um abraço meu jovem