quarta-feira, março 01, 2006

Há mais Portugal, para além do litoral!

Amigos, depois de alguma ausência na participação neste blog, cá estou novamente para partilhar convosco mais algumas ideias. Desta vez venho falar-vos da problemática do interior. A desertificação, o pouco investimento por parte do Estado (não há dúvidas sobre esta questão, apesar do erro das Scuts!).
Há questões que se têm que pôr urgentemente:
O que é que o Estado pretende fazer para combater a desertificação?
Há projectos nesse sentido?
Há articulação com os municípios?
São a estas e a muitas outras questões que devemos reflectir e questionar o Governo.
Nesse sentido aqui vai o meu artigo da semana passada:
Há mais Portugal, para além do litoral!

O facto de milhares de escolas estarem prestes a encerrar as suas portas, tem passado um pouco despercebido à comunicação social, que se tem entretido praticamente só com os temas dos Cartoons de Maomé e da gripe das aves.
Mas no interior do nosso país, este encerramento é um problema real. Ora vejamos:

o As aldeias do interior já vão tendo muito pouco. Não têm transportes, ficaram sem estações de correios, sem postos da GNR e agora irão ficar sem escolas;
o Todos os sinais de vida vão desaparecendo destes locais, outrora vividos intensamente pelas gentes da sua terra;
o As vilas mais pequenas, mais tarde ou mais cedo irão perder os tribunais, as repartições de finanças, o direito a serem freguesias. Os sinais do Estado vão, aos poucos, desaparecendo;

Estas medidas que irão dar origem à extinção das escolas com menos de 20 alunos, têm a sua lógica e, no que respeita à contenção de custos e racionalização das despesas, tem todo o sentido. Mas são, sem dúvida alguma, duros golpes na configuração e heterogeneidade do nosso país, bem como em comunidades que ainda vão preservando o nosso código genético cultural.
Estes locais que são parte integrante do nosso Portugal e foram até há alguns anos a terra de muitos portugueses.

O que devemos fazer neste momento, não é contestar estas medidas, mas sim, iniciar uma nova etapa geográfica, pensar o que fazer a estas vilas e aldeias.
Se nada for feito, a curto prazo teremos um país mais pobre.
Autarquias, CCDR´s, Direcções Regionais, empresas e sociedade civil, terão, por imperativo nacional, que se juntar e delinear uma estratégia conjunta, de forma a rentabilizar estes locais desertificados. Há que inverter esta tendência catastrófica de deixar o interior do país, pouco a pouco, sem vivalma.

Há oportunidades que se poderão aproveitar, ideias a apoiar e decisões a tomar. O interior do nosso país, é por exemplo, um local privilegiado para desenvolver algumas actividades desportivas, como passeios pedestres, passeios de btt, passeios a cavalo, paintball, escalada, rappel, slide, entre outras, que poderão ser integradas em campos de férias e férias desportivas.
Criar rotas turísticas, gastronómicas, culturais, desportivas, é, na minha opinião, um dos caminhos para rentabilizar as nossas aldeias e vilas que vão ficando despovoadas.
Recuperar castelos degradados e colocá-los nas rotas turísticas é outro imperativo nacional que as entidades responsáveis deverão, na minha opinião, incluir na sua rota de decisão.

Uma questão se põe:

Para todas estas actividades poderem funcionar, são necessárias pessoas que dinamizem, e que se proponham atingir os objectivos que referi. São necessários jovens, que transmitam lufadas de “ar fresco” a estas aldeias. Mas que casal jovem com filhos ou que pense vir a tê-los, quererá radicar-se numa aldeia ou vila onde não existe uma escola de 1º ciclo? Será que os custos sociais resultantes destes encerramentos, foram devidamente pensados e equacionados, em termos de balanço custos/benefícios?

Os transportes que são da responsabilidade das autarquias irão aumentar de uma forma exponencial, o facto de alunos com idades entre os 5 e os 9 anos, serem retirados do seu meio ambiente às 7 ou 8 horas da manhã e chegarem a casa muitas vezes às 5 ou 6 horas da tarde, não serão motivos muito fortes para se repensar todas estas situações.
Um abraço a todos
Filipe Mouzinho Serrote

1 comentário:

Anónimo disse...

Concordo plenamente! E o título vem mesmo a propósito! Tem me dado que pensar algumas das medidas anunciadas, serviços de urgência que fecham, Cartórios Notariais, Tribunais e por aí fora!

A questão da interioridade deveria ser discutida com seriedade, porque não serão necessários muitos anos, para que a desertificação tome conta disto!

Acreditem que não é fácil viver no interior! Andar 20 km para ir a um cinema, gastar cerca de € 60,00 numa deslocação, em carro próprio a Lisboa, para poder ver uma peça de teatro, andar mais de 20 km para ter um especialista médico pela caixa... não é assim que se fixam os jovens, não é a fechar os serviços que restam, que eles quererão ficar no sítio onde nasceram!

Já basta não investir, quanto mais tirar o que cá temos!

Mas não vou alongar-me, até porque não sou expert na matéria, apenas posso falar daquilo que sei... que é viver no interior!

E é verdade também que andam sempre a tapar os olhos com a resolução de problemas que não são, de todo, tão importantes ou pertinentes quanto esta!

Há mais Portugal, para além do litoral!

Cumprimentos a todos e desculpem lá a invasão... mas eu bati à porta e disseram que podia entrar lol